quarta-feira, 13 de maio de 2009

Por que

Amor meu, minhas penas, meu delírio
aonde quer que vás, irá contigo
meu corpo, mais que um corpo, irá um'alma
sabendo embora ser perdido intento
.
o de cingir-te forte de tal modo
que, desde então se misturando as partes
resultaria o mais perfeito andrógino
nunca citado em lendas e cimélios.
.
Amor meu, punhal meu, fera miragem
consubstanciada em vulto feminino,
por que não libertas do teu jugo,
por que não me convertes em rochedo,
.
por que não me eliminas do sistema
dos humanos prostrados, miseráveis,
por que preferes doer-me como chaga
a fazer dessa chaga meu prazer?
.
Carlos Drummond de Andrade
(Farewell, 1996)
(repostando porque é lindo e necessário)

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