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domingo, 16 de maio de 2010

Poeminha Sentimental

O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vem pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega e vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam.

Mário Quintana.
(Preparativos de Viagem, in Poesia Completa, Ed. Nova Aguilar, 2005)

domingo, 28 de março de 2010

Eu fiz um poema

Eu fiz um poema belo
e alto
como um girassol de Van Gogh
como um copo de chope sobre o mármore
de um bar
que um raio atravessa
eu fiz um poema belo como um vitral
claro como um adro...
Agora
não sei que chuva o escorreu
suas palavras estão apagadas
alheias uma à outra como as palavras de um dicionário.
Eu sou como um arqueólogo decifrando as cinzas de um cidade morta.
O vulto de um velho arqueólogo curvado sobre a terra...

Em que estrela, amor, o teu riso estará cantando?

Mário Quintana
(em Esconderijos do Tempo, Poesia Completa, Ed. Nova Aguilar)

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Surto

Hoje, no meio da tarde, tive um surto de felicidade. Sensação irresistível de que tudo já deu certo. Que não há tristezas, não há mágoas, não há dúvidas - tudo passou como se nunca tivesse existido. Só há felicidade. Não entendo de onde veio isso. No ipod, Maria Bethania cantava tão triste a Modinha. Vai triste canção, sai do meu peito e semeia a emoção, que chora dentro do meu coração. E foi-se! Vontade de beijar as pessoas na rua e rir de nada (como se para rir precisasse haver motivo). Desço do ônibus. Chego em casa. Jogo o gato para cima. Abro um livro ao acaso. Mário Quintana me diz (leio e rio):
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Poeminha Sentimental
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O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vem pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega e vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam.
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(Preparativos de Viagem, in Poesia Completa, Ed. Nova Aguilar, 2005)
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domingo, 9 de novembro de 2008

Mais uma do Quintana...

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Astrologia

Minha estrela não é a de Belém:
A que, parada, aguarda o peregrino.
Sem importar-se com qualquer destino
A minha estrela vai seguindo além...

- Meu Deus, o que é que esse menino tem? -
Já suspeitavam desde eu pequenino.
O que eu tenho? É uma estrela em desatino...
E nos desentendemos muito bem!

E quando tudo parecia a esmo
E nesses descaminhos me perdia
Encontrei muitas vezes a mim mesmo...
Eu temo é uma traição do instinto
Que me liberte, por acaso, um dia
Deste velho e encantado Labirinto
.
Mario Quintana
(Baú dos Espantos, 1986)

Emergência

Quem faz um poema abre uma janela
Respira, tu que estás numa cela
abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas profundamente respirar.

Quem faz um poema salva um afogado.


Mário Quintana
(Apontamentos de uma história sobrenatural. 1976)