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quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Ouvindo...




Não vale a pena
(J.E.P. Garfunkel)

Ficou difícil
Tudo aquilo, nada disso
Sobrou meu velho vício de sonhar
Pular de precipício em precipício
Ossos do ofício
Pagar pra ver o invisível
E depois enxergar

Que é uma pena
Mas você não vale a pena
Não vale uma fisgada dessa dor
Não cabe como rima de um poema
De tão pequeno
Mas vai e vem e envenena
E me condena ao rancor
De repente, cai o nível
E eu me sinto uma imbecil
Repetindo, repetindo, repetindo
Como num disco riscado
O velho texto batido
Dos amantes mal-amados
Dos amores mal-vividos
E o terror de ser deixada
Cutucando, relembrando, reabrindo
A mesma velha ferida
E é pra não ter recaída
Que não me deixo esquecer

Que é uma pena
Mas você não vale a pena

domingo, 1 de novembro de 2009

Washington DC, 31 de outubro, 2009

Sorvete de morfina é para os dias mais difíceis e amargos. Há um ano, doía tanto não ser amado que precisei de um vício novo que me deixasse anestesiado. Não havia endorfina, chocolate ou porre que desse jeito. Sorvete de morfina aliviou a dor, diminui meu medo. Ficou uma marca. Nunca mais olhei o mundo do mesmo jeito. Depois de tanto sorvete, recuperei um pouco da humanidade. Andava perdida em um buraco escuro em mim. Usei. Abusei. Aumentei a fábrica. Fiz mais sorvete. Desde então vivo de morfina em doses terapêuticas, prescritas como sorvete. Devagar acerto a dose. Para aliviar. Sem parar de respirar.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Ouvindo... (para os desiludidos com a espécie)


.
Human Behaviour
(Bjork)
.

If you ever get close to a human
And human behaviour
Be ready to get confused

There's definitely no logic
To human behaviour
But yet so irresistible

There is no map
To human behaviour

They're terribly moody
Then all of a sudden turn happy
But, oh, to get involved in the exchange
Of human emotions is ever so satisfying

There's no map and
A compass
Wouldn't help at all

Human behaviour

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Meninos, meninas e indecisos: eu vi (e fui)...


Eu odeio a América e isso já não é mais segredo.
Mas tem coisas que a gente precisa aprender com eles...








"All means All"
Equality NOW

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Definições XVIII

.
Indefinição é quando você não encontra o significado da palavra no dicionário. Ou quando há vários significados e você não sabe o que fazer com eles. Definir é uma tentativa de aprisionar a idéia a um objeto. Fazer algo que só existe na sua cabeça tornar-se real. Apropriar-se do conteúdo imaterial das coisas para construir o seu mundo. Por isso a indefinição é uma sensação tão ruim. Só quando ela surge é você descobre é que todas as suas definições deixaram de existir, ou perderam o sentido. Para continuar vivendo terá que construir (ou definir) tudo de novo.

Ouvindo...


.
Volcano
(Damien Rice)

Don't hold yourself like that
You'll hurt your knees
I kissed your mouth and back
But that's all I need
Don't build your world around volcanoes melt you down

What I am to you is not real
What I am to you you do not need
What I am to you is not what you mean to me
You give me miles and miles of mountains
And I'll ask for the sea

Don't throw yourself like that
In front of me
I kissed your mouth your back
Is that all you need?
Don't drag my love around volcanoes melt me down

What I am to you is not real
What I am to you you do not need
What I am to you is not what you mean to me
You give me miles and miles of mountains
And I'll ask for what I give to you
Is just what i'm going through
This is nothing new
No no just another phase of finding what I really need
Is what makes me bleed
And like a new disease she's still too young to treat
Volcanoes melt me down
She's still too young
I kissed your mouth
You do not need me

sábado, 26 de setembro de 2009

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

idéias mortas

as idéias andam fugindo
de mim
mudando de calçada
.
se me vêem
na rua
da amargura
.
e do completo
branco omo total

atravessam sem olhar
para os lados

preferem a brutalidade
do atropelamento

a fazer parte
do meu arsenal

de bobagens

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Soneto do Suicida Bêbado

Ah ah ah, hoje eu só quero me matar
Preciso achar um jeito dessa vida acabar
Pode ser com canivete, corda, faca, ou veneno
Pode ser pela janela do décimo-quinto andar
.
Não preciso de ajuda, só preciso de um momento
Quem sabe esperar um vento que me ajude a saltar
Sem vento resta o veneno, quem sabe chumbinho tento
ou mais morfina do que aguento, para parar de respirar
.
Pode parecer delírio, mas isso aqui não é o lírio
Não preciso de colírio, o que eu quero é veneno
Para preparar o terreno e então morrer sereno,
com um último aceno, sem ninguém me incomodar
.
E no enterro tragam flores, girassóis, alguns amores
Não chorem, não sintam dores, eu morri de tanto amar.

Ouvindo...



Não é fácil
(Marisa Monte, Carlinhos Brown, Arnaldo Antunes)

Não é fácil
Não pensar em você
Não te contar meus planos,
Não te encontrar
.
Todo dia de manhã
Eu tomo meu café amargo
É, ainda boto fé de um dia
te ver ao meu lado
Na verdade, eu preciso aprender
Não é fácil, não é facil
.
Onde você anda, onde está você?
Toda vez que eu saio
eu me preparo prá talvez te ver
Na verdade eu preciso esquecer
Não é fácil, não é fácil
.
Todo dia de manhã
Eu tomo meu café amargo
É, ainda boto fé de um dia
te ver ao meu lado
O que eu faço?
O que eu posso fazer?
Não é fácil, não é fácil
.
Se você quisesse ia ser tão legal
Acho que eu seria mais feliz do que qualquer mortal
Na verdade, não consigo esquecer
Não é fácil, é estranho

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Há 110 anos atrás...

... nascia Borges. Abrindo ao acaso saiu o poema que transcrevo abaixo.

.

meus livros
.
Meus livros (que não sabem que eu existo)
São tão parte de mim como este rosto
De fontes grises e de grises olhos
Que inultimente busco nos cristais
E que com a mão côncava percorro.
Não sem alguma lógica amargura
Penso que as palavras são essenciais
Que me expressam se encontram nessas folhas
Que não sabem quem sou eu, não nas que escrevi.
Melhor assim. As vozes dos mortos
Vão me dizer para sempre.

Jorge Luís Borges
(A Rosa Profunda, in Borges - Poesia. Ed. Cia das Letras. Tradução Josely Vianna Baptista.

domingo, 23 de agosto de 2009

Obituário


.

Sexta-feira, 21 de agosto, morreu Fulano Sicrano(http://www.naofechemoumquetenha.blogspot.com/). Fulano vinha contribuindo intensamente para a divulgação da música popular brasileira, a nova e a antiga. Através de Fulano, conheci muita gente boa e aumentei meu repertório. Como ele é brasileiro e não desiste nunca, ele diz que volta (http://twitter.com/fulanosicrano). Assim espero. Vida eterna ao Fulano.


terça-feira, 18 de agosto de 2009

Ouvindo...



Canto de Xangô
(Vinícius de Moraes & Baden Powell)
.
Eu vim de bem longe, eu vim, nem sei mais de onde é que eu vim
Sou filho de rei muito lutei pra ser o que eu sou
Eu sou negro de cor mas tudo é só amor em mim
Tudo é só amor, para mim
Xangô Agodô
Hoje é tempo de amor
Hoje é tempo de dor, em mim
Xangô Agodô
Salve , Xangô, meu Rei Senhor
Salve meu Orixá
Tem sete cores sua cor
sete dias para a gente amar
Salve Xangô, meu Rei Senhor
Salve meu Orixá
Tem sete cores sua cor
sete dias para a gente amar
Mas amar é sofrer
Mas amar é morrer de dor
Xangô, meu Senhor, saravá!
Me faça sofrer
Ah me faça morrer
Mas me faça morrer de amar
Xangô, meu Senhor, saravá!
Xangô agodô

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Definições XVII

.
Estrangeiro é quando você olha para o lado e não reconhece nada nem ninguém. É uma sensação de infinita solidão - difícil explicá-la - e que é sempre qualitativa: não depende de quanta gente tem por perto, mas de quem está ao seu redor. O estrangeiro é um estado, não é um ser. Ninguém é estrangeiro ou fica estrangeiro por toda a vida. Aos poucos o corpo começa a aceitar o novo mundo, a ouvir novas palavras, ver gente nova e reconhecer tudo isso como parte dele. Dói, demora, requer paciência. Até que um dia você vê numa porta escrito "push" e ao invés de puxar, você empurra e entra.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Definições XVI

.
Mudança é quando seu lugar no mundo muda de lugar. Por um instante perde-se o eixo. Às vezes achá-lo de novo demora. Às vezes, ele some definitivamente e aí é preciso construir um novo eixo. Isso dá trabalho e dói. É quando a morfina ajuda. O problema maior de perder o eixo é que para construir um novo, é preciso deixar coisas e pessoas pelo caminho - nem tudo pode ser enrolado em plástico bolha e acondicionado em caixas de papelão. O que nem importa tanto, se com o novo eixo pronto, você souber navegar na direção certa.

domingo, 19 de julho de 2009

Sobre Uma Arte

Releio um poema
querido
que me lembra:

"- A arte de perder não é nenhum mistério."*

Triste dizer
que perder só é fácil
em poema

Em prosa,
perder é sim
algo muito sério

Por isso o sorvete
de morfina existe
para que perder

seja menos triste e
sem dor eu aprenda
a perder em poema

Para que eu aprenda
a perder sem fazer
da perda prosa

Sem fazer da perda
prosa eu consiga
entender a sério

Por que a arte de
perder não é
nenhum mistério

(* verso de "Uma Arte" de Elizabeth Bishop, tradução de Paulo Henriques Britto)

sábado, 18 de julho de 2009


.
Esquadros
(Adriana Calcanhotto)
.
Eu ando pelo mundo
Prestando atenção em cores
Que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo
Cores!
.
Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção
No que meu irmão ouve
E como uma segunda pele
Um calo, uma casca
Uma cápsula protetora
Ai, Eu quero chegar antes
Prá sinalizar
O estar de cada coisa
Filtrar seus graus...
.
Eu ando pelo mundo
Divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome
Nos meninos que têm fome...
.
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...
.
Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm
Para quê?
As crianças correm
Para onde?
Transito entre dois lados
De um lado
Eu gosto de opostos
Exponho o meu modo
Me mostro
Eu canto para quem?
.
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle
.
Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado...
.
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

sábado, 11 de julho de 2009

Último Tango

quantos tangos ainda não dançamos
na intensidade louca e urgente
e explícita dos nossos encontros
noturnos diurnos sem hora sem
razão sem nexo sem querer que
fosse nada além do momento e
que muito mais que o momento
se tornaram e agora e agora
que falta seu sorriso falta
você me chamando de chato
você reclamando do gato
você declamando Tchekov
e me contando do teatro
falta sua boca brincando
e marcando meu pescoço branco
enquanto eu sorria e te oferecia
meu corpo e a força dos meus braços
que você usava e me devolvia
ao fim em pulsante líquido doce
suave sabor que impregnava
enlouquecia e naquele momento
sem poder dizer que te amava
me fazia blasé te beijava a boca
enquanto você sem poder dizer
o que sentia me dizia apenas que
era a última vez a última
tão lírico eu e você
um tango argentino
tanta intensidade
ameniza a saudade
e me faz carregar você em mim

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Dilema

O que muito me confunde
é que no fundo de mim estou eu
e no fundo de mim estou eu.
No fundo
sei que não sou sem fim
e sou feito de um mundo imenso
imerso num universo
que não é feito de mim.
Mas mesmo isso é controverso
se nos versos de um poema
perverso sai o reverso.
Disperso num tal dilema
o certo é reconhecer:
no fundo de mim
sou sem fundo.
.
Antonio Cícero
(Guardar, Ed. Record 1996)

quarta-feira, 1 de julho de 2009

O último poema

Assim eu quereria o meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
.
Manuel Bandeira
(Libertinagem)