terça-feira, 15 de junho de 2010

Língua

hoje eu olho as paredes
marcadas pelo arrastar dos móveis
e sinto sede.

sinto que sou uma girafa
preciso abaixar o pescoço
até o fundo do poço
para beber água fresca
contar com as válvulas
do meu pescoço
para não desmaiar
de tédio e calor

vejo o carpete encharcado
– porra, já falei, não deixa o carpete sob o ar condicionado
e lembro da girafa.

Não há graciosidade num bicho tão grande.
Língua tão grande.
Um palmo de língua para fora.

O tamanho da língua não garante
que falemos o mesmo idioma.
"You have to learn Portuguese, baby..."

Não implique com minhas cortinas pretas, please.

As cortinas pretas mantém o meu tédio do lado de fora.
As cortinas pretas isolam o mundo do meu mundo.
As cortinas pretas preservam o tênue fio poético que ainda há em mim.

Recordações III

Sobre o teclado velho
marca o dedilhado
derrama lágrimas
que borram as notas
de um último tango
prelúdio noturno.

- Lembra quando só havia Música?

Todas as angústias do mundo
cabiam em um dicionário de bolso.