segunda-feira, 31 de maio de 2010

Também já fui Brasileiro

Eu também já fui brasileiro
moreno como vocês.
Ponteei viola, guiei forde
e aprendi na mesa dos bares
que o nacionalismo é uma virtude.
Mas há uma hora em que os bares se fecham
e todas as virtudes se negam.

Eu também já fui poeta.
Bastava olhar para mulher,
pensava logo nas estrelas
e outros substantivos celestes.
Mas eram tantas, o céu tamanho,
minha poesia pertubou-se.

Eu também já tive meu ritmo.
Fazia isso, dizia aquilo.
E meus amigos me queriam,
meu inimigos me odiavam.
Eu irônico deslizava
satisfeito de ter meu ritmo.
Mas acabei confundindo tudo.
Hoje não deslizo mais não,
não sou irônico mais não,
não tenho ritmo mais não.

C.D.A
(Alguma Poesia, in Poesia Completa,Ed. Nova Aguilar, 2006)

Reflexão

gastei uma lágrima hoje
porque havia uma mancha
no tapete branco que deveria
iluminar a minha sala.

alguém apagou o tapete
com um pouco de algo
marrom que poderia
ser chocolate
- talvez seja.

talvez eu
talvez você
não consigo lembrar
quando a luz apagou
só que
apagaram o tapete branco
que iluminava a minha sala.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Ouvindo...



You wanted a hit
(J. Murphy and A. Doyle)

You wanted a hit
But maybe we don't do hits
I try and try
It ends up feeling kind of wrong

You wanted it tough
But is it ever tough enough?
No, nothing's ever tough enough
Until we hit the road

Yeah, you wanted it lush
But honestly you must hush
No honestly you know too much
So leave us, leave us on our own

And so you wanted a hit
Well, this is how we do hits
You wanted the hit
But that's not what we do

You wanted it real
But can you tell me what's real?
There's lights and sounds and stories
Music's just a part

Yeah, you wanted the truth
And then you said you want proof
I guess you're used to liars
Saying what they want

And we won't be your babies
anymore
We won't be your babies anymore
We won't be your babies
'Til you take us home


No, we won't be your babies anymore
We won't be your babies anymore
We can't be your babies
'Til you take us home

Yeah, you wanted it smart
But honestly I'm not smart
No, honestly we're never smart
We fake it, fake it all the time

Yeah, you wanted the time
But maybe I can't do time
Oh, we both know that's an awful line
But it doesn't make it wrong

You wanted it right
No out of mind and out of sight
No dirty bus and early flight
No seven days and forty nights

Yeah, you wanted a hit
But tell me where's the point in it?
You wanted the hit
But that's not what we do

And we won't be your babies anymore
We won't be your babies anymore
We won't be your babies
'Til you take us home

No, we won't be your babies anymore
We won't be your babies anymore
We can't be your babies
'Til you take us home

And we won't be your babies anymore
We won't be your babies anymore
We won't be your babies
'Til you take us home

No, we won't be your babies anymore
We won't be your babies anymore
We can't be your babies
'Til you take us home

domingo, 16 de maio de 2010

Poeminha Sentimental

O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vem pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega e vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam.

Mário Quintana.
(Preparativos de Viagem, in Poesia Completa, Ed. Nova Aguilar, 2005)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

A tentativa de suicídio do Sr. Pollini


Defina arte. Se você puder. O momento exato em que um objeto, um som, uma imagem ou um poema deixam de ser somente um objeto, um som, uma imagem e um poema, para adquirir um status outro. Ou adquirir um significado novo. Mesmo, que você reconheça o objeto, o som, a imagem ou o poema, existe algo que naquele instante modifica esses elementos e traz uma concepção ou um sentimento inesperado.

Ontem, por volta das 5 da tarde, em NY, o Sr. Pollini tentou o suicídio na minha frente. Em pleno Carnegie Hall lotado. E acredite, isso foi inesperado. Pollini tem 68 anos de idade, uma carreira internacional consolidada (que começou aos 18 anos, após vencer o Concurso Internacional Chopin, em Varsóvia) e o status de lenda. Um dos últimos grandes pianistas do século passado ainda em atividade. O Sr. Pollini não precisa provar a ninguém o quão grande ele é (apesar de ser baixinho). Mas, intencionalmente, após um recital de quase duas horas de duração – o terceiro e último de uma série que relembrou os 200 anos da morte de Chopin – o Sr. Pollini tentou o suicídio.

Críticos do pianista não cansam de anunciá-lo como um intérprete seco, rígido e sem emoção. Enganam-se em suas análises. Toda a contenção em Pollini tem um propósito. Toda a contenção em Pollini direciona-se à verdade da escrita musical. Toda energia contida é liberada no momento certo, na proporção exata e isso é arte. Não é possível negar o lirismo nos Noturnos Op.55 ou na Barcarolla Op.60 (e ele não nega). Mas quem mais, nessa faixa de grandeza, pode apresentar uma Berceuse Op.57 tão límpida e plácida? Pollini toca a Berceuse como se estivesse tocando um dos estudos para piano de Ligeti – total independência rítmica e melódica. De fazer a inveja a qualquer um dos pretensos superpianistas chineses atualmente “disponíveis no mercado”.

A última peça do programa foi a última sonata escrita Chopin, Op.58, obra de sua maturidade. Novamente, impressiona a precisão, a clareza e velocidade com que a música flui. Público uivando de felicidade ao fim do concerto, aplaude de pé o pianista. Ele volta ao palco e após três tentativas de escape, engata – como encore – a terceira Balada. Corajoso, diriam muitos. Novamente o público agradece com aplausos e gritos de “bravo”. Parecia já ter teminado, após quase duas horas de música, quando o pianista retorna mais uma vez para agradecer e inspirado, decide se suicidar. Joga-se ao piano sem aviso prévio à audiência, e ataca o temido Estudo Op.10 no.4 – o mais difícil de toda a safra de estudos para piano escrita por Chopin. Poucos o tocam dentro de um programa bem planejado. Ninguém toca algo assim como encore. Só ele. Ao término, sorrindo, agradece à platéia emudecida e o confessa a tentativa de suicídio. É o inesperado que faz a arte. O mundo precisa demais desses loucos pianistas suicidas.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Feliz Aniversário

hoje é 7 de maio e lembrei do seu aniversário. Senti uma tristeza imensa, porque eu sei que não vou receber uma mensagem no meio da noite, dizendo que você que você está chegando. Minha tristeza é menor porque sei que você está bem. Eu estou bem. Mas ainda sinto sua falta. Não sei se vou te "encontrar" por acaso, uns poucos minutos de conversa no msn. Oi, oi, tudo bem? Tá, vc? As coisas ficaram meio pela metade da última vez que nos vimos. Eu sei... Difícil saber que que não vou te ver no dia seguinte e no outro. Quem sabe algum dia. De novo. Eu te acho. Ainda teremos um tango. Prometo. Saudade. Feliz Aniversário.

com carinho
J.