quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Ouvindo...




Não vale a pena
(J.E.P. Garfunkel)

Ficou difícil
Tudo aquilo, nada disso
Sobrou meu velho vício de sonhar
Pular de precipício em precipício
Ossos do ofício
Pagar pra ver o invisível
E depois enxergar

Que é uma pena
Mas você não vale a pena
Não vale uma fisgada dessa dor
Não cabe como rima de um poema
De tão pequeno
Mas vai e vem e envenena
E me condena ao rancor
De repente, cai o nível
E eu me sinto uma imbecil
Repetindo, repetindo, repetindo
Como num disco riscado
O velho texto batido
Dos amantes mal-amados
Dos amores mal-vividos
E o terror de ser deixada
Cutucando, relembrando, reabrindo
A mesma velha ferida
E é pra não ter recaída
Que não me deixo esquecer

Que é uma pena
Mas você não vale a pena

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Vade mecum

I want the scissors to be sharp
and the table to be perfectly level
when you cut me out of my life
and paste me in the book you always carry.


Billy Collins
(in Sailing Alone Around the Room)




domingo, 26 de setembro de 2010

confessions of a teenage drama queen

I was a male war bride. I was a spy
so I married an axe murderer. I married Joan
I married a monster from outer space

I am guilty, I am the cheese, I am a fugitive from a chain gang
maybe I’ll come home in the spring. I’ll cry tomorrow
whose life is it anyway? it’s a wonderful life

I want to live. I want someone to eat cheese with
who am I this time? I am cuba. I am a sex addict
why was I born? why must I die? I could go on singing

I’ll sleep when I’m dead. I know who killed me
I was nineteen, I was a teenage werewolf, just kill me
kiss me, kill me. kill me later. kill me again

give me a sailor, if I had my way, I’d rather be rich
I wouldn’t be in your shoes. I wish I had wings
I wish I were in dixie (I passed for white) I was framed

I was a burlesque queen, I was a teenage zombie
I was an adventuress, I was a convict, I was a criminal
I did it, I killed that man, murder is my beat, I confess

D.A. Powell
(for David Trinidad)

sábado, 28 de agosto de 2010

Matthea Harvey










Ando totalmente apaixonado por Matthea Harvey (http://www.nytimes.com/2008/02/17/books/review/Orr2-t.html) depois de ter lido esse poema há duas semanas atrás na New York:


THE STRAIGHTFORWARD MERMAID

by Matthea Harvey

The straightforward mermaid starts every sentence with “Look . . . ” This comes from being raised in a sea full of hooks. She wants to get points 1, 2, and 3 across, doesn’t want to disappear like a river into the ocean. When she’s feeling despairing, she goes to eddies at the mouth of the river and tries to comb the water apart with her fingers. The straightforward mermaid has already said to five sailors, “Look, I don’t think this is going to work,” before sinking like a sullen stone. She’s supposed to teach Rock Impersonation to the younger mermaids, but every beach field trip devolves into them trying to find shells to match their tail scales. They really love braiding. “Look,” says the straightforward mermaid. “Your high ponytails make you look like fountains, not rocks.” Sometimes she feels like a third gender—preferring primary colors to pastels, the radio to singing. At least she’s all mermaid: never gets tired of swimming, hates the thought of socks.


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INTRODUCTION TO DISEASE

by Matthea Harvey (in Sad Little Breathing Machine)


Call me Responsible.
(Like all of them
it loves an exam.)

Pleased to meetcha.
A charming living space.
Thank you.
All original, naturally.

Tongue? Not telling.
(Funny little factory.)

I know my diagnosis.
Friendlier than the world.
Friendlier than the world.

Well do yourself a favor
they say & I don't think we meant it
like that.

I do. Like that.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Ouvindo...

Efêmera
(Tulipa Ruiz)

Vou ficar mais um pouquinho
Para ver se acontece alguma coisa nessa tarde de domingo
Hoje é o tempo preu ficar devagarinho
com as coisas que eu gosto e que eu sei que são efêmeras
e que passam perecíveis
e acabam, se despedem, mas eu nunca me esqueço

Por isso eu vou ficar mais um pouquinho
Para ver se eu aprendo alguma coisa nessa parte do caminho
Martelo o tempo preu ficar mais pianinho
com as coisas que eu gosto e que nunca são efêmeras
e que estão despetaladas, acabadas
Sempre pedem um tipo de recomeço

Vou ficar mais um pouquinho, eu vou

Vou ficar mais um pouquinho
para ver se acontece alguma nessa tarde de domingo
Vou ficar mais um pouquinho
para ver se eu aprendo alguma nessa parte do caminho


terça-feira, 15 de junho de 2010

Língua

hoje eu olho as paredes
marcadas pelo arrastar dos móveis
e sinto sede.

sinto que sou uma girafa
preciso abaixar o pescoço
até o fundo do poço
para beber água fresca
contar com as válvulas
do meu pescoço
para não desmaiar
de tédio e calor

vejo o carpete encharcado
– porra, já falei, não deixa o carpete sob o ar condicionado
e lembro da girafa.

Não há graciosidade num bicho tão grande.
Língua tão grande.
Um palmo de língua para fora.

O tamanho da língua não garante
que falemos o mesmo idioma.
"You have to learn Portuguese, baby..."

Não implique com minhas cortinas pretas, please.

As cortinas pretas mantém o meu tédio do lado de fora.
As cortinas pretas isolam o mundo do meu mundo.
As cortinas pretas preservam o tênue fio poético que ainda há em mim.

Recordações III

Sobre o teclado velho
marca o dedilhado
derrama lágrimas
que borram as notas
de um último tango
prelúdio noturno.

- Lembra quando só havia Música?

Todas as angústias do mundo
cabiam em um dicionário de bolso.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Também já fui Brasileiro

Eu também já fui brasileiro
moreno como vocês.
Ponteei viola, guiei forde
e aprendi na mesa dos bares
que o nacionalismo é uma virtude.
Mas há uma hora em que os bares se fecham
e todas as virtudes se negam.

Eu também já fui poeta.
Bastava olhar para mulher,
pensava logo nas estrelas
e outros substantivos celestes.
Mas eram tantas, o céu tamanho,
minha poesia pertubou-se.

Eu também já tive meu ritmo.
Fazia isso, dizia aquilo.
E meus amigos me queriam,
meu inimigos me odiavam.
Eu irônico deslizava
satisfeito de ter meu ritmo.
Mas acabei confundindo tudo.
Hoje não deslizo mais não,
não sou irônico mais não,
não tenho ritmo mais não.

C.D.A
(Alguma Poesia, in Poesia Completa,Ed. Nova Aguilar, 2006)

Reflexão

gastei uma lágrima hoje
porque havia uma mancha
no tapete branco que deveria
iluminar a minha sala.

alguém apagou o tapete
com um pouco de algo
marrom que poderia
ser chocolate
- talvez seja.

talvez eu
talvez você
não consigo lembrar
quando a luz apagou
só que
apagaram o tapete branco
que iluminava a minha sala.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Ouvindo...



You wanted a hit
(J. Murphy and A. Doyle)

You wanted a hit
But maybe we don't do hits
I try and try
It ends up feeling kind of wrong

You wanted it tough
But is it ever tough enough?
No, nothing's ever tough enough
Until we hit the road

Yeah, you wanted it lush
But honestly you must hush
No honestly you know too much
So leave us, leave us on our own

And so you wanted a hit
Well, this is how we do hits
You wanted the hit
But that's not what we do

You wanted it real
But can you tell me what's real?
There's lights and sounds and stories
Music's just a part

Yeah, you wanted the truth
And then you said you want proof
I guess you're used to liars
Saying what they want

And we won't be your babies
anymore
We won't be your babies anymore
We won't be your babies
'Til you take us home


No, we won't be your babies anymore
We won't be your babies anymore
We can't be your babies
'Til you take us home

Yeah, you wanted it smart
But honestly I'm not smart
No, honestly we're never smart
We fake it, fake it all the time

Yeah, you wanted the time
But maybe I can't do time
Oh, we both know that's an awful line
But it doesn't make it wrong

You wanted it right
No out of mind and out of sight
No dirty bus and early flight
No seven days and forty nights

Yeah, you wanted a hit
But tell me where's the point in it?
You wanted the hit
But that's not what we do

And we won't be your babies anymore
We won't be your babies anymore
We won't be your babies
'Til you take us home

No, we won't be your babies anymore
We won't be your babies anymore
We can't be your babies
'Til you take us home

And we won't be your babies anymore
We won't be your babies anymore
We won't be your babies
'Til you take us home

No, we won't be your babies anymore
We won't be your babies anymore
We can't be your babies
'Til you take us home

domingo, 16 de maio de 2010

Poeminha Sentimental

O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vem pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega e vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam.

Mário Quintana.
(Preparativos de Viagem, in Poesia Completa, Ed. Nova Aguilar, 2005)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

A tentativa de suicídio do Sr. Pollini


Defina arte. Se você puder. O momento exato em que um objeto, um som, uma imagem ou um poema deixam de ser somente um objeto, um som, uma imagem e um poema, para adquirir um status outro. Ou adquirir um significado novo. Mesmo, que você reconheça o objeto, o som, a imagem ou o poema, existe algo que naquele instante modifica esses elementos e traz uma concepção ou um sentimento inesperado.

Ontem, por volta das 5 da tarde, em NY, o Sr. Pollini tentou o suicídio na minha frente. Em pleno Carnegie Hall lotado. E acredite, isso foi inesperado. Pollini tem 68 anos de idade, uma carreira internacional consolidada (que começou aos 18 anos, após vencer o Concurso Internacional Chopin, em Varsóvia) e o status de lenda. Um dos últimos grandes pianistas do século passado ainda em atividade. O Sr. Pollini não precisa provar a ninguém o quão grande ele é (apesar de ser baixinho). Mas, intencionalmente, após um recital de quase duas horas de duração – o terceiro e último de uma série que relembrou os 200 anos da morte de Chopin – o Sr. Pollini tentou o suicídio.

Críticos do pianista não cansam de anunciá-lo como um intérprete seco, rígido e sem emoção. Enganam-se em suas análises. Toda a contenção em Pollini tem um propósito. Toda a contenção em Pollini direciona-se à verdade da escrita musical. Toda energia contida é liberada no momento certo, na proporção exata e isso é arte. Não é possível negar o lirismo nos Noturnos Op.55 ou na Barcarolla Op.60 (e ele não nega). Mas quem mais, nessa faixa de grandeza, pode apresentar uma Berceuse Op.57 tão límpida e plácida? Pollini toca a Berceuse como se estivesse tocando um dos estudos para piano de Ligeti – total independência rítmica e melódica. De fazer a inveja a qualquer um dos pretensos superpianistas chineses atualmente “disponíveis no mercado”.

A última peça do programa foi a última sonata escrita Chopin, Op.58, obra de sua maturidade. Novamente, impressiona a precisão, a clareza e velocidade com que a música flui. Público uivando de felicidade ao fim do concerto, aplaude de pé o pianista. Ele volta ao palco e após três tentativas de escape, engata – como encore – a terceira Balada. Corajoso, diriam muitos. Novamente o público agradece com aplausos e gritos de “bravo”. Parecia já ter teminado, após quase duas horas de música, quando o pianista retorna mais uma vez para agradecer e inspirado, decide se suicidar. Joga-se ao piano sem aviso prévio à audiência, e ataca o temido Estudo Op.10 no.4 – o mais difícil de toda a safra de estudos para piano escrita por Chopin. Poucos o tocam dentro de um programa bem planejado. Ninguém toca algo assim como encore. Só ele. Ao término, sorrindo, agradece à platéia emudecida e o confessa a tentativa de suicídio. É o inesperado que faz a arte. O mundo precisa demais desses loucos pianistas suicidas.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Feliz Aniversário

hoje é 7 de maio e lembrei do seu aniversário. Senti uma tristeza imensa, porque eu sei que não vou receber uma mensagem no meio da noite, dizendo que você que você está chegando. Minha tristeza é menor porque sei que você está bem. Eu estou bem. Mas ainda sinto sua falta. Não sei se vou te "encontrar" por acaso, uns poucos minutos de conversa no msn. Oi, oi, tudo bem? Tá, vc? As coisas ficaram meio pela metade da última vez que nos vimos. Eu sei... Difícil saber que que não vou te ver no dia seguinte e no outro. Quem sabe algum dia. De novo. Eu te acho. Ainda teremos um tango. Prometo. Saudade. Feliz Aniversário.

com carinho
J.

domingo, 25 de abril de 2010

Georgia O'Keeffe

fui ver Georgia hoje na Phillips Collection, em DC. Bela (e muito completa) retrospectiva da grande pintora abstrata americana.
( fotografada por Stieglitz)






"I know I cannot paint the flower. I cannot paint the sun on the desert on a bright summer morning, but maybe in terms of paint color I can convey to you my experience of the flower or the experience of the flower or the experience that makes the flower of significance to me at that particular time."

(Georgia O'Keeffe 1887-1986)

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Recordações de viagem II

Sobre um teclado velho
marca o dedilhado
derrama lágrimas
borram as notas
de um último tango
prelúdio noturno
Lembra quando havia só a Música?
Todas as angústias do mundo
cabiam num dicionário de bolso

domingo, 18 de abril de 2010

Recordações de viagem

a última lembrança

para o poema uma história

triste o menino que espirrou

mais forte que deveria e caiu

no precipício ao entardecer