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terça-feira, 15 de junho de 2010

Língua

hoje eu olho as paredes
marcadas pelo arrastar dos móveis
e sinto sede.

sinto que sou uma girafa
preciso abaixar o pescoço
até o fundo do poço
para beber água fresca
contar com as válvulas
do meu pescoço
para não desmaiar
de tédio e calor

vejo o carpete encharcado
– porra, já falei, não deixa o carpete sob o ar condicionado
e lembro da girafa.

Não há graciosidade num bicho tão grande.
Língua tão grande.
Um palmo de língua para fora.

O tamanho da língua não garante
que falemos o mesmo idioma.
"You have to learn Portuguese, baby..."

Não implique com minhas cortinas pretas, please.

As cortinas pretas mantém o meu tédio do lado de fora.
As cortinas pretas isolam o mundo do meu mundo.
As cortinas pretas preservam o tênue fio poético que ainda há em mim.

domingo, 23 de novembro de 2008

Noite Transfigurada


Noite Transfigurada
(para o Leo)

noite transfigurada
cantada em versos decassílabos
de um pedaço de papel
rasgado
guardanapo de um café
que guarda
a recordação do que poderia ter sido
se não tivesse não sido
e simplesmente fosse
só um horóscopo
de domingo
esperança
do que talvez um dia será
quando as criaturas
não forem mais imaginárias
quando as vontades
não forem mais imaginárias
quando as imagens
não forem mais imaginárias
quando a noite deixar
de ser transfigurada
num pedaço de papel