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domingo, 7 de fevereiro de 2010

Três reflexões de domingo

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I

o relógio
marca
as horas
diferente
em cada punho

II

olho triste
olhos tristes
por que pedir
perdão
e não aceitá-lo?


III

amar é olhar
a privada
e não ter nojo
da merda
alheia
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"Mary Poppins" (por Joao Daher)

Faixa 4

sempre tenho
preguiça da vida
aos domingos

leio jornal caminho
no calçadão tomo café
esqueço o dia

faixa quatro luz negra
a música repete nara
takai curto uma bossa

uma fossa
choro um teatro sem cor
com plateia vazia


Ramon Mello
(Vinis Mofados, Ed. Língua Geral, 2009)

domingo, 14 de junho de 2009

Alívio

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Odeio domingo de manhã. Odeio domingo de manhã nessa cidade onde nem a folha da azaleia, que dá para a minha janela, balança com o vento. Isso é mentira. Porque odeio domingo de manhã em qualquer lugar. Mas aqui, parece que todos os defeitos do domingo de manhã são ressaltados. Nem ter dormido com Borges e acordado com Clarice diminuiu meu ódio mortal do domingo de manhã. Aliás, só aumentou. Porque, aparentemente, Clarice também tem ódio e é pior que o meu. É do domingo inteiro. Meu ódio do domingo pelo menos diminui no final do dia. Aindo acho que uma segunda-feira é só uma segunda chance. Segunda chance do que? Sei lá. De acontecer o que não sei o que é que deveria ter acontecido na semana passada e não aconteceu. Pode ser? Tá bom assim? Saco de vida em que se tem que explicar tudo, justificar tudo. Parece romance. Romance sempre tem recheio para dar conta de explicar tudo. Romances são cansativos, já disse Borges. Muito melhor viver num conto. Não tem de explicar nada a ninguém. Tem espaço suficiente para toda a complexidade e nenhum espaço para explicações. O leitor entenda como quiser. E se não entender nada, melhor ainda. Antes sinta, que entenda. Ou que só entenda depois de sentir. Ou que só se preocupe com isso muito depois de sentir. Muito melhor. Já passa do meio-dia. Alívio.
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