quinta-feira, 27 de agosto de 2009

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Há 110 anos atrás...

... nascia Borges. Abrindo ao acaso saiu o poema que transcrevo abaixo.

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meus livros
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Meus livros (que não sabem que eu existo)
São tão parte de mim como este rosto
De fontes grises e de grises olhos
Que inultimente busco nos cristais
E que com a mão côncava percorro.
Não sem alguma lógica amargura
Penso que as palavras são essenciais
Que me expressam se encontram nessas folhas
Que não sabem quem sou eu, não nas que escrevi.
Melhor assim. As vozes dos mortos
Vão me dizer para sempre.

Jorge Luís Borges
(A Rosa Profunda, in Borges - Poesia. Ed. Cia das Letras. Tradução Josely Vianna Baptista.

Ouvindo...


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Tempos Modernos
(Lulu Santos)
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Eu vejo a vida
Melhor no futuro
Eu vejo isso
Por cima de um muro
De hipocrisia
Que insiste
Em nos rodear...
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Eu vejo a vida
Mais clara e farta
Repleta de toda
Satisfação
Que se tem direito
Do firmamento ao chão...
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Eu quero crer
No amor numa boa
Que isso valha
Pra qualquer pessoa
Que realizar, a força
Que tem uma paixão...
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Eu vejo um novo
Começo de era
De gente fina
Elegante e sincera
Com habilidade
Pra dizer mais sim
Do que não, não, não...
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Hoje o tempo voa amor
Escorre pelas mãos
Mesmo sem se sentir
Não há tempo
Que volte amor
Vamos viver tudo
Que há pra viver
Vamos nos permitir...
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Eu quero crer
No amor numa boa
Que isso valha
Pra qualquer pessoa
Que realizar, a força
Que tem uma paixão...
.
Eu vejo um novo
Começo de era
De gente fina
Elegante e sincera
Com habilidade
Pra dizer mais sim
Do que não...
.
Hoje o tempo voa amor
Escorre pelas mãos
Mesmo sem se sentir
E não há tempo
Que volte amor
Vamos viver tudo
Que há prá viver
Vamos nos permitir...
.
E não há tempo
Que volte amor
Vamos viver tudo
Que há pra viver
Vamos nos permitir...

domingo, 23 de agosto de 2009

Obituário


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Sexta-feira, 21 de agosto, morreu Fulano Sicrano(http://www.naofechemoumquetenha.blogspot.com/). Fulano vinha contribuindo intensamente para a divulgação da música popular brasileira, a nova e a antiga. Através de Fulano, conheci muita gente boa e aumentei meu repertório. Como ele é brasileiro e não desiste nunca, ele diz que volta (http://twitter.com/fulanosicrano). Assim espero. Vida eterna ao Fulano.


sábado, 22 de agosto de 2009

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Asas

no meio de mim
mora um ser alado
que toda hora
tenta sair

antes eu dizia:
sai, meu filho
voa!

agora?

não deixo.
não deixo.
não deixo.

quer voar?
me leva junto.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Ouvindo...



Canto de Xangô
(Vinícius de Moraes & Baden Powell)
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Eu vim de bem longe, eu vim, nem sei mais de onde é que eu vim
Sou filho de rei muito lutei pra ser o que eu sou
Eu sou negro de cor mas tudo é só amor em mim
Tudo é só amor, para mim
Xangô Agodô
Hoje é tempo de amor
Hoje é tempo de dor, em mim
Xangô Agodô
Salve , Xangô, meu Rei Senhor
Salve meu Orixá
Tem sete cores sua cor
sete dias para a gente amar
Salve Xangô, meu Rei Senhor
Salve meu Orixá
Tem sete cores sua cor
sete dias para a gente amar
Mas amar é sofrer
Mas amar é morrer de dor
Xangô, meu Senhor, saravá!
Me faça sofrer
Ah me faça morrer
Mas me faça morrer de amar
Xangô, meu Senhor, saravá!
Xangô agodô

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Definições XVII

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Estrangeiro é quando você olha para o lado e não reconhece nada nem ninguém. É uma sensação de infinita solidão - difícil explicá-la - e que é sempre qualitativa: não depende de quanta gente tem por perto, mas de quem está ao seu redor. O estrangeiro é um estado, não é um ser. Ninguém é estrangeiro ou fica estrangeiro por toda a vida. Aos poucos o corpo começa a aceitar o novo mundo, a ouvir novas palavras, ver gente nova e reconhecer tudo isso como parte dele. Dói, demora, requer paciência. Até que um dia você vê numa porta escrito "push" e ao invés de puxar, você empurra e entra.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Frase do dia, digo, da noite


"Thus in silence in dreams’ projections,

Returning, resuming, I thread my way through the hospitals,

The hurt and wounded I pacify with soothing hand,

I sit by the restless all the dark night, some are so young,

Some suffer so much, I recall the experience sweet and sad"
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Walt Whitman, 1865
(gravado na pedra, no portal de entrada norte do metrô, em Dupont Circle, Wash DC)
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Leaves of Grass (Song of myself)


[I]
I celebrate myself,
And what I assume you shall assume,
For every atom belonging to me as good belongs to
.......you.

I loafe and invite my soul,
I lean and loafe at my ease . . . . observing a spear of
........summer grass.
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[II]
...
Stop this day and night with me and you shall possess the
.......origin of all poems,
You shall possess the good of earth and sun . . . . there
.......millions of suns left,
You shall no longer take things at second or third
.......hand . . . . nor look through the eyes of the dead . . . .
.......nor feel on the spectres in books,
You shall not look through my eyes either, nor take things
.......from me
You shall listen to all sides and filter them from yourself.
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Walt Whitman
Song of myself, in Leaves of Grass,
introduction by Harold Bloom, Penguin Classics, 2005)

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

O Frenesi de Julho

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Se o frenesi não fosse literário, mas sexual, julho teria sido um orgasmo múltiplo. Não que tenha sido recheado de leituras excitantes - não li quase nada. Mas foi tanta coisa ao mesmo tempo que ainda estou meio atordoado. Flip. Paraty antes de partir para lembrar. Manuel Bandeira. Uma semana só na companhia de amigos, livros, música e sonhos. Quem precisa de algo mais? Sorvete de morfina. Um biscoito da sorte chinês e profético. Muitos livros na bagagem de volta. Metade do peso devia-se ao Lobo Antunes. Como é belo o Lobo Antunes. E profundo e poético e infinitamente belo. A outra metade a alguns poetas. Companheiros de viagem. Mal deu tempo de desfazer a mala de Paraty - desfazer não, porque não desfaço malas. Elas que desfazem-se sozinhas. Viram pó. Mal as malas desfizeram-se e já era hora de reunir o pó novamente. Despedidas. Despedidas. Despedidas. Eu odeio despedidas. Eu não sei partir. Não aprendi a lição com o aeroporto - talvez por nunca ter morado perto de um. Não sei partir sem medo, sem remorso, sem saudade. Mas só chorei duas vezes. Sou econômico no choro. A primeira, quando me despedi de meus pais. A segunda, lendo um poema para alguém que, sem querer, mas muito feliz, acabei por amar. Aquele mesmo poema sobre a arte de perder, que volta e meia bate na minha porta. A última semana foi difícil. Dizer adeus. Reunir meus pedaços mais íntimos e enfiar numa mala (três...) até não caber mais uma migalha. Tentar, em vão, carregar tudo. Não cabe nas malas e dá vontade de chorar mais. Mas o choro não vem e tanta coisa precisa ser feita que não há tempo para chorar. Último compromisso no Rio: consulta com a astróloga. Uma amiga me diz que "eu fui à astróloga" é uma frase incompatível com a minha boca. Mas eu fui. Juro. E ela mandou eu parar de sofrer. Meu mapa natal aponta para o sucesso e a felicidade. É só não atrapalhar. Chega o dia. Correria. Mal dá tempo de pegar mais uns livros, tocar uma última música ao piano (e lembrar de quando só havia a música e nada mais importava), dizer adeus aos amigos mais queridos. Ia deixar uma carta de boas vindas para o Gato de Alice, num envelope amarelo, mas não deu tempo. Nem de dizer o quanto ele mudou a minha vida. Olho para Borges e eu sei que ele sabe que eu estou indo e que dessa vez, quando a porta fechar, eu não vou voltar por um longo tempo. Ele me olha com seus olhos amarelos e severos. Nós nos entendemos por olhares e miados desde o primeiro dia. Diz que não me preocupe e que cuidará de tudo até eu voltar.

Recado

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Sinto falta de você.
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E não é pouca falta.
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É muita.
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quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Querido diário


hoje acordei às 4:45 para ir ao NIH tentar conseguir um appointment para o meu badge (crachá). Se nos USA eu não sou ninguém sem social security number, no NIH eu não sou ninguém sem badge. E só atendem 14 pessoas por dia... Isso é a América. Nao é muito diferente do Brasil. A lot bureaucracy. Neuroses. Psicoses. Salvaguardar a segurança nacional. Um mundo de paradoxos. O metrô também tem congestionamento de trens, escadas rolantes que não funcionam, pessoas irritadas e rush hour. Mas o mais irritante do metrô de DC é a tarifa. Ela muda, dependendo do horário e de para onde voce vai. Crazy. Bem, pelo menos consegui o appointment para o badge. Agora são 8:40 e tenho que voltar às 2 PM para tirar impressões digitais. Aí vão investigar a minha vida. E se eu for uma pessoa legal, confiável, menino de família, que não sai com qualquer um, nem fica na esbórnia, pode ser que, daqui a uma semana, eu tenha um badge. Depois fui tomar café na cafeteria do building 10. Não me perco mais no Bldg 10, mas também não me aventuro mais por trilhas desconhecidas. Já sei como chegar na minha sala, no office do meu chefe, na secretária, no banheiro e na cafeteria. Por ora, é o suficiente. O café estava disgusting. Mas enfim... $7 perdidos e umas 500 calorias a mais. Ando meio deprimido, mas dizem por aí que é normal. Nessas horas eu me lembro do elevador profeticamente repetindo "going down, going down, going down". Pelo menos, o elevador do meu novo prédio é mudo. Não fica torcendo pela infelicidade das pessoas. Ah, uma coisa boa: aprendi a mudar as configurações do teclado. Logo, já pude voltar a escrever no meu Português ruim. E só. Tô com sono. Morfina. Marlene chegou e disse oi. Eu respondi "olá." Sem beijinho nem abraço. Como é emocionante esta vida na América.