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segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Soneto do Suicida Bêbado

Ah ah ah, hoje eu só quero me matar
Preciso achar um jeito dessa vida acabar
Pode ser com canivete, corda, faca, ou veneno
Pode ser pela janela do décimo-quinto andar
.
Não preciso de ajuda, só preciso de um momento
Quem sabe esperar um vento que me ajude a saltar
Sem vento resta o veneno, quem sabe chumbinho tento
ou mais morfina do que aguento, para parar de respirar
.
Pode parecer delírio, mas isso aqui não é o lírio
Não preciso de colírio, o que eu quero é veneno
Para preparar o terreno e então morrer sereno,
com um último aceno, sem ninguém me incomodar
.
E no enterro tragam flores, girassóis, alguns amores
Não chorem, não sintam dores, eu morri de tanto amar.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Ouvindo...


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Tempos Modernos
(Lulu Santos)
.
Eu vejo a vida
Melhor no futuro
Eu vejo isso
Por cima de um muro
De hipocrisia
Que insiste
Em nos rodear...
.
Eu vejo a vida
Mais clara e farta
Repleta de toda
Satisfação
Que se tem direito
Do firmamento ao chão...
.
Eu quero crer
No amor numa boa
Que isso valha
Pra qualquer pessoa
Que realizar, a força
Que tem uma paixão...
.
Eu vejo um novo
Começo de era
De gente fina
Elegante e sincera
Com habilidade
Pra dizer mais sim
Do que não, não, não...
.
Hoje o tempo voa amor
Escorre pelas mãos
Mesmo sem se sentir
Não há tempo
Que volte amor
Vamos viver tudo
Que há pra viver
Vamos nos permitir...
.
Eu quero crer
No amor numa boa
Que isso valha
Pra qualquer pessoa
Que realizar, a força
Que tem uma paixão...
.
Eu vejo um novo
Começo de era
De gente fina
Elegante e sincera
Com habilidade
Pra dizer mais sim
Do que não...
.
Hoje o tempo voa amor
Escorre pelas mãos
Mesmo sem se sentir
E não há tempo
Que volte amor
Vamos viver tudo
Que há prá viver
Vamos nos permitir...
.
E não há tempo
Que volte amor
Vamos viver tudo
Que há pra viver
Vamos nos permitir...

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

O Frenesi de Julho

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Se o frenesi não fosse literário, mas sexual, julho teria sido um orgasmo múltiplo. Não que tenha sido recheado de leituras excitantes - não li quase nada. Mas foi tanta coisa ao mesmo tempo que ainda estou meio atordoado. Flip. Paraty antes de partir para lembrar. Manuel Bandeira. Uma semana só na companhia de amigos, livros, música e sonhos. Quem precisa de algo mais? Sorvete de morfina. Um biscoito da sorte chinês e profético. Muitos livros na bagagem de volta. Metade do peso devia-se ao Lobo Antunes. Como é belo o Lobo Antunes. E profundo e poético e infinitamente belo. A outra metade a alguns poetas. Companheiros de viagem. Mal deu tempo de desfazer a mala de Paraty - desfazer não, porque não desfaço malas. Elas que desfazem-se sozinhas. Viram pó. Mal as malas desfizeram-se e já era hora de reunir o pó novamente. Despedidas. Despedidas. Despedidas. Eu odeio despedidas. Eu não sei partir. Não aprendi a lição com o aeroporto - talvez por nunca ter morado perto de um. Não sei partir sem medo, sem remorso, sem saudade. Mas só chorei duas vezes. Sou econômico no choro. A primeira, quando me despedi de meus pais. A segunda, lendo um poema para alguém que, sem querer, mas muito feliz, acabei por amar. Aquele mesmo poema sobre a arte de perder, que volta e meia bate na minha porta. A última semana foi difícil. Dizer adeus. Reunir meus pedaços mais íntimos e enfiar numa mala (três...) até não caber mais uma migalha. Tentar, em vão, carregar tudo. Não cabe nas malas e dá vontade de chorar mais. Mas o choro não vem e tanta coisa precisa ser feita que não há tempo para chorar. Último compromisso no Rio: consulta com a astróloga. Uma amiga me diz que "eu fui à astróloga" é uma frase incompatível com a minha boca. Mas eu fui. Juro. E ela mandou eu parar de sofrer. Meu mapa natal aponta para o sucesso e a felicidade. É só não atrapalhar. Chega o dia. Correria. Mal dá tempo de pegar mais uns livros, tocar uma última música ao piano (e lembrar de quando só havia a música e nada mais importava), dizer adeus aos amigos mais queridos. Ia deixar uma carta de boas vindas para o Gato de Alice, num envelope amarelo, mas não deu tempo. Nem de dizer o quanto ele mudou a minha vida. Olho para Borges e eu sei que ele sabe que eu estou indo e que dessa vez, quando a porta fechar, eu não vou voltar por um longo tempo. Ele me olha com seus olhos amarelos e severos. Nós nos entendemos por olhares e miados desde o primeiro dia. Diz que não me preocupe e que cuidará de tudo até eu voltar.

domingo, 24 de maio de 2009

As sem-razões do Amor

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
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Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
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Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
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Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor
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Carlos Drummond de Andrade
(Corpo, in Poesia Completa, Ed. Nova aguilar, 2006)
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domingo, 17 de maio de 2009

Cantada

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Entro na livraria - qualquer uma, não importa. Procuro um romance. Cansei dos contos, novelas e crônicas. Cansei sobretudo da poesia. Só quero um romance - simples assim. Oferece ajuda o vendedor. Só procuro um romance. Quer me indicar um? Claro, senhor. Que tipo de romance? Não quero romances históricos, gigantescos, impossíveis, só lutas, tragédias e mortes, amores transatlânticos, sem chance de final feliz. Não quero romances urbanos, dos anos oitenta, deprimidos, drogados, cheios de vícios e poetas suicidas - toda a esperança queimada na ponta do cigarro que cai pela janela do sétimo andar. Não quero romances juvenis - já passei dessa idade - cheios de promessas de amor, cenas passionais no elevador, sexo e paixão - muita paixão - que não resiste nem até o fim do capítulo dois. Não quero romances fantásticos, com seus personagens bizarros, situações improváveis, universos paralelos e realidades imaginárias. Isso não existe. E por favor, não quero esses romances contemporâneos. Sabe quais? Fragmentados, esquizofrênicos, cheios de si na sua infinita (falta de) criatividade, como se a coisa mais interessante do mundo fosse ir e vir sem sair do lugar. Dispenso essa coleção de romances fracassados. O que sobrou na prateleira? Ficou vazia, senhor. Ah, tá. Esquece. Quer saber, pare de me chamar de senhor, me dê logo um beijo. Preciso começar a escrever meu próprio romance.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Por que

Amor meu, minhas penas, meu delírio
aonde quer que vás, irá contigo
meu corpo, mais que um corpo, irá um'alma
sabendo embora ser perdido intento
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o de cingir-te forte de tal modo
que, desde então se misturando as partes
resultaria o mais perfeito andrógino
nunca citado em lendas e cimélios.
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Amor meu, punhal meu, fera miragem
consubstanciada em vulto feminino,
por que não libertas do teu jugo,
por que não me convertes em rochedo,
.
por que não me eliminas do sistema
dos humanos prostrados, miseráveis,
por que preferes doer-me como chaga
a fazer dessa chaga meu prazer?
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Carlos Drummond de Andrade
(Farewell, 1996)
(repostando porque é lindo e necessário)

sábado, 9 de maio de 2009

Frase do dia, digo, da noite. Não, da madrugada mesmo...

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"Quem pagará o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?"

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Vinícius de Moraes
(A hora íntima, Rio 1950)
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PS.: Gostei muito de te ver, Leãozinho...