Entro na livraria - qualquer uma, não importa. Procuro um romance. Cansei dos contos, novelas e crônicas. Cansei sobretudo da poesia. Só quero um romance - simples assim. Oferece ajuda o vendedor. Só procuro um romance. Quer me indicar um? Claro, senhor. Que tipo de romance? Não quero romances históricos, gigantescos, impossíveis, só lutas, tragédias e mortes, amores transatlânticos, sem chance de final feliz. Não quero romances urbanos, dos anos oitenta, deprimidos, drogados, cheios de vícios e poetas suicidas - toda a esperança queimada na ponta do cigarro que cai pela janela do sétimo andar. Não quero romances juvenis - já passei dessa idade - cheios de promessas de amor, cenas passionais no elevador, sexo e paixão - muita paixão - que não resiste nem até o fim do capítulo dois. Não quero romances fantásticos, com seus personagens bizarros, situações improváveis, universos paralelos e realidades imaginárias. Isso não existe. E por favor, não quero esses romances contemporâneos. Sabe quais? Fragmentados, esquizofrênicos, cheios de si na sua infinita (falta de) criatividade, como se a coisa mais interessante do mundo fosse ir e vir sem sair do lugar. Dispenso essa coleção de romances fracassados. O que sobrou na prateleira? Ficou vazia, senhor. Ah, tá. Esquece. Quer saber, pare de me chamar de senhor, me dê logo um beijo. Preciso começar a escrever meu próprio romance.
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