terça-feira, 5 de maio de 2009

O Frenesi de Abril

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Parecia que Abril ia ser calmo. Muito calmo. Terminava de ler Foucault. O Poder psiquiátrico. Estava bem feliz com meus malucos. Ou, como diriam os amigos, teria encontrado meu lugar entre eles. Até Freud adentrou minha biblioteca em grande estilo, em vinte e dois volumes. Estudos sobre a Histeria. Tentando entender um pouco melhor os histéricos do ambulatório. Ou, como diriam os amigos, me entender. Futuro certo, emprego, dinheiro entrando. Tudo ia bem. Até passei no Baratos e comprei mais uns livros ótimos a preço de banana-maçã. A tragédia brasileira e Um crime delicado, do Sérgio Sant'anna, e Mongólia do Bernardo Carvalho. De quebra ainda achei um exemplar novo do livro de poesias do Borges que faltava na minha estante: O fazedor, por módicos R$12.00 (uma ofensa...). Dia dois, recebo por e-mail a notícia que esperei por quase dois anos. Não esperava mais que fosse acontecer. A possibilidade de passar um tempo fora do país, nas melhores condições, para estudar e descobrir coisas com as quais eu sonhava. Não sei se ainda sonho. Não dava tempo para pensar - precisava dizer sim ou não rápido. Disse sim, sem saber se era sim mesmo. Melhor desistir depois se for o caso. No meio da confusão, só pude recorrer a Clarice. Lispector. Água viva. Um livro esquizofrênico. Aliás, nunca me esquecerei do José Carlos, um paciente esquizofrênico que me pediu um livro de Clarice há um tempo atrás. Dei a ele A paixão segundo GH. Ele adorou. Inclusive me explicou umas partes que eu não havia entendido. Fora da psiquiatria o mundo ficou meio sem graça. Continuei trabalhando em outros lugares. Mas não é a mesma coisa. A psiquiatria renovou minha humanidade e tenho medo de perdê-la de novo. Mais tempo livre, uma tese para escrever, mais tempo livre para ler. O filho da mãe, de Bernardo Carvalho, foi uma boa leitura, embora continue a preferir outros livros do autor. O Frenesi Polissilábico, de Nick Hornby - sobre o qual já falei aqui. Passei de novo no sebo. Achei Corpo Presente, do Cuenca e o livro de poesias do Gonçalo M. Tavares, "1". O primeiro não li. O segundo não gostei, fiquei meio decepcionado. Vai ver eu estava chateado. Depois começaram os feriados e acabei disperso. Tentando pensar na tese que não saía. E na viagem - se eu iria. Preferi deixar rolar e ver o que aconteceria. Lá pelo dia vinte, conheci alguém especial, fiquei balançado. Obviamente, lendo poesia. Livro dos Sonetos, do Vinícius. Um pouco de Libertinagem não faz mal a ninguém. E Muitas Vozes, embora só uma eu quisesse de fato ouvir. Confesso, foi bom demais estar com você (que o digam os vizinhos...). Mesmo sabendo que você não queria nada sério agora. Eu te disse: eu também não. Mas sabe como é... peixes, escorpião - só tem emoção aqui. A razão fica de fora. Não fiquei chateado, decepcionado, nada disso - sem neuras. A propósito, Feliz Aniversário adiantado, caso não consiga falar com você no dia. Claro que vou tentar. E foi a astrologia que me levou ao último livro do mês: Triângulo das Águas, do Caio Fernando Abreu. De longe, a melhor leitura do mês, catártico, me emocionou profundamente. Li durante a viagem, no dia primeiro de maio. Merecedor do Prêmio Frenesi de Abril. Acabou o mês. Não acabaram os livros. Não é a Biblioteca de Babel. Mas pode ser que se torne infinita.
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Um comentário:

andrea del fuego disse...

Minha primeira vez por aqui, acho que nunca mais vou sair.