sexta-feira, 1 de maio de 2009

De manhã...

quando acordo assustado, ainda não sei o que de fato ocorreu, o que de fato foi sonhado. Viro e vejo que acordei sozinho. A memória de que você me disse "adeus" retorna. Essa é uma palavra muito forte, principalmente para se dizer na noite escura, após tanto afeto, após tanto prazer. Após, com tanta dificuldade, dizer o que você queria ouvir: estou apaixonado. Diga até qualquer hora. É melhor e mais verdadeiro. Lembre-se da música. Vai saber? "Só porque disse que não me quer, não quer dizer que não vai querer..." Queria tanto que você entendesse que eu vivo o momento. Com toda a intensidade do mundo eu vivo o momento. Mais que tudo eu preciso viver o momento. Porque não sei se continuarei a respirar no instante seguinte. Não, não é um tango argentino. Mas poderia ser. Eu sou um ser que ama intensamente, que vive intensamente, que não tem medo de sofrer e por isso mesmo não tem medo de amar imensamente. Eu me ofereço inteiro e peço pouco em troca - foi isso o que eu quis dizer e não consegui explicar. E arco com as conseqüências de ser assim - elas não são poucas, você sabe. Pode me chamar de inconsequente. Mas é tão melhor assim que viver uma vida cinza. Por isso talvez eu ame tanto os poetas. Eu acredito em Vinícius. Eu acredito em Gullar. "Só agora sei que existe a eternidade: é a duração finita da minha precariedade". Eu queria que você pudesse viver também só o momento. Sem preocupações. Sem expectativas. Sem ter medo. Só o agora, enquanto for bom. Deixar que o futuro fosse construído passo-a-passo, como uma sucessão de instantes felizes que podem se prolongar - únicos - indefinidamente. Quase uma utopia: um para sempre feito a cada dia. A medida da eternidade seria a medida do nosso prazer. Enquanto ele durasse. E quando acabasse (se um dia acabasse), teríamos certeza de que se não foi eterno (posto que era chama), foi infinito enquanto durou. E diga o que quiser, mas você sabe - tão bem quanto eu - que nosso prazer ainda não terminou.

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