quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Almofadas, Tangos & Orangotangos


Ando tendo sonhos estranhos. Na noite de sábado sonhei com uma almofada preta. Sim. Almofada preta que sumia num buraco branco, meio Alice no País das Maravilhas, só que sem Alice e sem maravilhas. Por algum motivo (não lembro direito) eu tinha que recuperar a almofada preta. Caí no buraco, ficou tudo escuro. Angústia. Acordei procurando a almofada preta. Não encontrei. Alguém perguntou se estava tudo bem. Eu disse que sim e tudo ficou escuro de novo. Ontem sonhei com orangotangos que tocavam tango. Orquestra completa numa clareira, no meio de uma floresta escura. Não havia regente, ou partituras, ou qualquer sinal de ordem. Mas cada orangotango tocava a sua parte com certeza e precisão, como se tivesse nascido fazendo aquilo. Como se nunca tivesse feito outra coisa. Ou como se vivesse em constante ensaio para um concerto. Parecia ser um tango argentino, um pastiche de Gardel, com cores meio modernas. Não havia pausas na música. Moto contínuo. Foi tudo ficando mais rápido, um acelerando perpétuo. De repente, não ouço mais nada. Mas os orangotangos continuam tocando. O segundo violino da terceira fileira olha prá mim, pisca o olho e solta um sorriso. Eu conheço esse sorriso. Não dá tempo de olhar de novo. Tudo escuro. Tudo claro. Acordado. Gato miando. Tempo nublado. No apartamento ao lado alguém ouve "Paris, Texas". Levanto e retorno ao meu tango diário.

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