segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Antipoeta


sem saber o que dizer
- não se vê poeta -
preferiu o silêncio
da escrita - que espera,
permaneça em silêncio
e não seja lida

domingo, 28 de dezembro de 2008

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Anamneses

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Leito 3 ou "Des-conto de Natal"
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Noel, 50 anos, pardo, morador da Rocinha. Carrega no ombro o peso da carne e do nome. Se morasse na Vila, poderia ter sido sambista. Mas nasceu no morro. De favela em favela, chegou à maior delas. O físico avantajado ajudou, mas foi o nome que determinou seu lugar no mundo - desde sempre iria ser Papai Noel. Profissão ingrata. Quem é que se satisfaz com o que Papai Noel pode oferecer hoje em dia? Já ouviu-se criança dizer que o velhinho se mudou da Lapônia para o Submarino, de onde envia - via sedex e sem cobrar frete - presentes de todo o tipo, durante o ano todo. Se sempre foi gordinho, talvez o estresse, o desemprego e uma penca de crianças insaciáveis tenham piorado a situação. Hoje, Noel pesa cento e oitenta quilos. Hipertenso, diabético, dislipidêmico, angina. Síndrome metabólica - disse o médico. Precisa perder peso - disse o nutricionista. Vamos reduzir o estômago - disse o cirurgião. Não no Natal - disse Noel. Como poderá haver Natal sem Noel? É urgente - disseram todos. Dia vinte e dois de dezembro o estômago de Noel encolheu. Dia vinte e três, boa recuperação. Dia vinte e quatro, febre alta, dor abdominal, distensão, irritação peritoneal. Chame o cirurgião. Vai precisar abrir. Sepse. Barriga aberta - cena bizarra. O estômago encolhido cresceu. Cheio de formas, em plena atividade criativa cuspia ao intestino carrinhos, bonecas, bolinhas de gude... Presentes de antigamente. Expelidos limpos e embalados, iam enchendo o saco de Noel. O cirurgião tentou, em vão, reduzir novamente o estômago de Noel. Era meia-noite do dia vinte e cinco quando o processo cessou e Noel morreu. Chão abarrotado de presentes, embrulhos com laços de fita. Atestado de óbito. Causa do óbito? Sem saber o que dizer, escreveu: descrença. 

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Definições VI

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Natal
é quando neva no Rio de Janeiro. A neve - ao que se vê - opera milagres. Desavenças são ignoradas. Promessas são esquecidas. Bonança prevalece. Quem diria que no país do sol e praia seria a neve o catalisador que aquece corações. Para o bem e para o mal, neve é gelo. Gelo derrete rápido sob sol de quarenta graus. Como a água que escorre, o Natal também vai ralo abaixo e, no dia vinte-e-seis, o mundo volta ao normal.

Cárcere

catando palavras
perdidas num canto
encontradas
juntando palavras
jogadas ao vento
recitadas
apagando palavras
deveriam estar
registradas
escrevendo palavras
precisavam ser
encarceradas
escrita
a palavra dita
encarcerada
a alma fica
num pedaço
de papel

domingo, 21 de dezembro de 2008

O Bóson, o Bozo e a Epistemologia

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Fiz uma descoberta terrível. Você sabia que tudo o que acredita que sabe pode não saber? E o culpado é o bóson de Higgs. Sim. O bóson. Eu, ignorante, não conhecia o bóson - no máximo o Bozo. Ops, seria Peter Higgs a identidade secreta do Bozo? Os bósons (se você mora no Brasil) ou bosões (se mora em Portugal) são partículas que possuem o spin inteiro e obedecem à estatística de Bose-Einstein. Existem vários tipos, todos com nomes bizarros tipo glúons, fótons, e o terrível bóson de Higgs. O problema é que o modelo atual da partícula, o qual explica tudo - já que tudo é feito de partículas - depende da existência do tal bóson de Higgs. Agora, se você não está sentado, sente-se, porque a existência do bóson de Higgs não foi comprovada. Já procuraram em todos os lugares, encontraram vários "ons" da vida, mas nada do tal bóson de Higgs. A última esperança: o LHC (Large Hadron Collider ou Grande Colisor de Hádrons), aquele treco gigantesco, debaixo de solo franco-suiço, que ligaram este ano. Pergunto eu: como é que ficaremos se o bóson de Higgs não for encontrado? Se o bóson de Higgs cair, cairão todos os "ons"? Do que seremos feitos então? Água? Fogo? Vento? Terra? O que é, é, porque o que não é não existe? É possível saber o que é? O que é possível saber? A mais importante: qual a identidade secreta do Bozo? Perguntas sem respostas.
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Higgs e Bozo. Notou a semelhança?

Poema de domingo

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um domingo
é
um dia difícil
de definir
pode ser sol e praia - um sorriso
pode ser só para dormir

Lição de um Gato Siamês


Só agora sei
que existe a eternidade:
é a duração
......finita
......da minha precariedade

O tempo fora
de mim
.............é relativo
mas não o tempo vivo:
esse é eterno
porque afetivo
- dura eternamente
...enquanto vivo

E como não vivo
além do que vivo
não é
tempo relativo:
dura em si mesmo
eterno (e transitivo)

Ferreira Gullar
(Muitas Vozes, José Olympio Editora, 1999)

sábado, 20 de dezembro de 2008

Poema de sábado

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um sábado
.........é só
...........a semana
.......sendo sublimada
..........na pista
.................de dança

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Miado


O gato mia de manhã
cedo demais
mia porque tem fome
ou porque acha que morri?
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O gato mia ao meio-dia
ninguém para ouvir
mia porque está só
ou porque acha que não voltarei?
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O gato mia à noite
tarde demais
mia porque quer a gata
ou para lembrar-se que ainda é gato?
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Miado de gato é como biscoito chinês
da sorte - cada um traz uma mensagem
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Nem sempre dá para entender
o que está escrito

Poema de quinta

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uma quinta
feira
pode ser
pode não ser
expectativa
de te rever

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Poema de quarta

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uma quarta
....................feira
.é só
........o dia
............de ir
....................à feira

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Poema de terça

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uma terça
..........feira
..................ainda
.....................é um
............terço
......de semana

Soneto do Gato Morto

Um gato vivo é qualquer coisa linda
Nada existe com mais serenidade
Mesmo parado ele caminha ainda
As selvas sinuosas da saudade

De ter sido feroz. À sua vinda
Altas correntes de eletricidade
Rompem do ar as lâminas em cinza
Numa silenciosa tempestade.

Por isso ele está sempre a rir de cada
Um de nós, e ao morrer perde o veludo
Fica torpe, ao avesso, opaco, torto

Acaba, é o antigato; porque nada
Nada parece mais com o fim de tudo
Que um gato morto.

Vinícius de Morais
(Nova Antologia Poética, Cia das Letras, 2008)
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PS.: O Blorges voltou e está atualizado...

Poema de segunda

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uma segunda
.....feira
..............é
................
uma segunda
.....chance

A apoteose da garota materialista

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Impressões pós-show. Madonna é Madonna. Não canta porra nenhuma (todo mundo sabe disso e ninguém se importa), mas não tem igual. Fale sério. Apesar da chuva torrencial do domingo, que deixou todo mundo encharcado - inclusive a própria, foi um mega-show. Não é qualquer um que sobrevive ao próprio sucesso, vide o Michael Jackson. E Madonna está aí, há 25 anos detonando a cada novo disco. É claro que o sucesso se deve também a business machine americana. Mas não tire o mérito da estrela. Ela sabe aproveitar o momento e as tendências, sem deixar de ser Madonna. Não existem mais ícones como ela. Pare para pensar e cite apenas um artista surgido após a virada do milênio que conseguiu atingir algo nesse nível. Não há. Sinal de tempos que mudam.
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Surgindo no palco ao som de Candy Shop
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Eu fiquei positivamente surpreso com o que vi. Esperava um show mais morno, de acordo com as críticas recentes da turnê. Exatamente o contrário, duas horas ininterruptas de espetáculo, inclusive com ótima aceitação de todo o repertório do novo disco, Hard Candy. Mas é óbvio que povo foi à loucura com os sucessos mais antigos, Vogue, Like a prayer, Into the Groove, Music...
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Momento go away fucking rain

Agora, cena antológica mesmo, foi Madonna, agachada no palco, secando o chão com um saco de chão branco. Isso ficará para sempre gravado na minha memória. Madonna é Madonna.
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Olhe aí a faxina, foi bem no meio de La Isla Bonita

domingo, 14 de dezembro de 2008

Material Girl


Ok, ela pode não ser mais a Material Girl, nem arrastar correntes no palco, beijar dançarinos nus, ou desafiar o Vaticano com coreografias envolvendo crucifixos gigantes. Mas ela ainda é a Madonna e está de volta 15 anos após "The Girlie Show". Se você nunca cantou Holiday, Like a Virgin, Material Girl, Like a Prayer, Erotica, Hung up, ou mesmo a chatinha Candy Shop não sabe o que está perdendo. Pare de ser chato e divirta-se like a virgin, touched for the very first time...
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sábado, 13 de dezembro de 2008

Os cegos do metrô


Quando foi que rir se tornou o melhor remédio? Alguém, por favor, me diga. Não há mais indignação. Tudo é piada. Não há mais dignidade. Tudo é escárnio. As pessoas riem da desgraça alheia e talvez pior - da própria desgraça. Ontem, usei o metrô para ir ao trabalho. Já estou acostumado com o caos que é usar o metrô no sentido Estácio, na sexta-feira, no horário do rush. Todo mundo também já sabe do mau funcionamento dos trens, do despreparo dos funcionários, da displicência da concessionária e da falta de investimento. Mas o que vi ontem me deixou chocado. Começou aqui mesmo, na estação Siqueira Campos. A composição levou 15 minutos parada, aguardando a "normalização do tráfego à frente". O Rio de Janeiro é único lugar no mundo que tem engarrafamento diário no metrô - o que é uma piada, considerando que só há dois sentidos, o que vai e o que vem. Obviamente, a composição saiu lotada da estação, já que as portas ficaram abertas durante todo o tempo. Em Botafogo, já não havia espaço sequer para uma mosca varejeira dentro do vagão. Mas o suplício continuou a cada estação. Dentro do vagão, uma senhora sentia-se mal, enquanto vários riam da situação e diziam "quer espaço? pegue um táxi". A partir do Largo do Machado, o caos reinou. Pessoas eram jogadas para o meio do vagão por uma multidão enfurecida. Na porta, alguns trogloditas gabavam-se de ter "barrado" alguns e deixado outros entrarem. Mais gente passando mal. Mais risos de escárnio. Na Cinelândia, uma pessoa passando mal conseguiu, com muito custo, deixar a vagão, aos gritos de "já vai tarde" vindos da multidão. Ao sair do vagão, começou a vomitar. Não havia funcionários do metrô para ajudá-la. Pelo menos não apareceu nenhum, nos quase cinco minutos em que o metrô ficou parado. Dentro do vagão começaram as brigas. Se você viu "Ensaio sobre a Cegueira" no cinema, ou leu o livro, vai conseguir visualizar a cena. Dentro do metrô, aparentemente, as pessoas ficaram "cegas". Contagem regressiva para chegar à Central, onde muitos saltam. Portas abertas, a boiada liberta. Uma senhora foi pisoteada. Não é uma figura de linguagem. Ela foi pisoteada por uma multidão enfurecida. De novo, não havia funcionários do metrô para socorrê-la. Os cegos deixaram a composição. Os poucos que restaram olhavam assustados. Mas só durou uma estação. Já na Praça Onze, ninguém mais se lembrava do ocorrido. Eu sei que você vai dizer que a culpa é do governo, do MetrôRio, do condutor do vagão ou quem mais estiver na frente. Que não há transporte suficiente para todos, que não se investe na expansão do metrô, que a única coisa que fizeram foi colocar mais ônibus nas ruas com o símbolo do metrô, para dizer que o metrô chega em todos os lugares (e você ainda paga mais pela ineficiência do sistema). Eu sei. Mas, sinto muito, isso não justifica os seus atos. Isso não justifica o riso, o escárnio, a falta de solidariedade e indignação, nem o desprezo. Isso não justifica a sua cegueira branca. Nem a minha. Porque não haverá solução, se além de tudo que já não temos, ainda perdermos a humanidade. Aí, nem com muito, mas muito sorvete de morfina.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Manifesto anti-felicidade


felicidade é constância
constância é tédio
tédio acaba
com a criatividade

resumo da ópera:

é melhor ser criativo
que ser feliz
abaixo a ditadura
da felicidade

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Presto


Os dias despencam
aos pedaços. Logo será janeiro.

Posso farejar o amarelo das amendoeiras
de então (amarelas como teu cabelo)

e a praia, os bares, a ferrugem, nossas costas
e braços liquefeitos. Tanto faz a solidão,

a companhia: tudo são doenças tropicais,
incuráveis. O verão virá, forasteiro,

no vôo tonto, nupcial dos cupins
em volta das lâmpadas. Janeiro

está próximo, pressinto seu peso, a alegria,
o tremor, a sezão, o óleo,

a girândola veloz dos relógios
a nos golpear no ventre. Girassóis

em bando assestarão suas lâminas
em direção aos táxis

enquanto os rios, erráticos, desaguarão
à porta dos edifícios da Senador Vergueiro.

Eucanãa Ferraz
(Rua do Mundo, Cia das Letras, 2004)

Fuga


I
Sem essa de luz em fim de túnel, luz é para covardes,
apague a luz, o túnel não tem fim
II
volte a fugir, seu contraponto é barroco
a primeira voz recita o tema - que voz é a sua?
III
desenvolva o tema, mude o tom e faça pausas, síncopes, acefalias
e pare de tentar acender a luz
IV
você não consegue, só repete repete repete,
pastiche de todos e de você mesmo - que ridículo
V
pare de tentar acender a luz e entenda:
não é a luz que falta, é a luz que sobra que não te deixa ver

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Ciranda

o gato parou
de frente
olhou
fez que não viu
fingiu que caiu
olhou olhou
não parou de olhar
pare, gato
pare
não olhe
olho de gato
brilha no escuro
quer testar?
olhar de gato
brilha no escuro
brilha brilha
não pára de brilhar
pára pára
pára de brilhar
olho de gato brilha
se o gato sorri
sorria sorria
pare pare
pare de sorrir
olho brilho sorriso
brilho sorriso olho
sorriso olho brilho
dar a meia volta
volta e meia
vamos dar
brilho olho sorriso
olho sorriso brilho
sorriso brilho olho
ciranda de roda
vamos todos
cirandar

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Credo

Eu não creio na rocha,
que se diz pétrea, sólida e una
e crê ser inviolável
Eu creio é na rosa,
que surge na brecha da rocha
violando o inviolável
Eu não creio na rocha
Estúpida, esqueceu-se que
verdades individuais
são sempre provisórias
Eu creio é na rosa
E a rosa é terna
A rosa é eterna

domingo, 7 de dezembro de 2008

Cara Feia

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PRÁ QUE CARA FEIA?
NA VIDA
NINGUÉM PAGA MEIA.


Paulo Leminski
(in Melhores Poemas de Paulo Leminski, 1999, Ed. Global)

Céticos ou Crentes?

"Cépticos como os cépticos, crente como os crentes. A metade que avança é crente, a metade que confirma é céptica.
Mas o cientista perfeito é também jardineiro: acredita que a beleza é conhecimento."

Gonçalo M. Tavares
(in Breves Notas sobre Ciência, Ed. Relógio d'Água, 2006)

sábado, 6 de dezembro de 2008

The road not taken


Two roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth;

Then took the other, as just as fair,
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear;
Though as for that the passing there
Had worn them really about the same,

And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black.
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads on to way,
I doubted if I should ever come back.

I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
Two roads diverged in a wood, and I—
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.

Robert Frost
(in Mountain Interval, 1920)

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Definições V

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Loucura é quando você atinge um estado de espírito em que todas as verdades deixam de ser provisórias para tornarem-se definitivas. Certezas incontestáveis, inabaláveis, inquebráveis e por isso mesmo indolores. Peças concretas de um eu que perdeu a unidade e se partiu em dois, três, quatro, sabe-se lá quantos. Não é possível reunir toda essa gente de novo. A solução é esquecer ou tolerar.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Aviso aos usuários


Hoje recebi um convite para me juntar
oficialmente aos malucos.
Sinto-me honrado.
Aviso que vou aceitar.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Definições IV

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Presente é quando você acorda e abre os olhos para o mundo. Pode ser de manhã. Pode ser depois do meio-dia. Pode ser agora. Pode ser nunca. Você é quem escolhe quando vai ser.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Feliz Natal?


"Todas as famílias felizes se parecem. As famílias infelizes são infelizes cada uma à sua maneira." Ninguém duvida de Tolstoi, na abertura da sua Anna Kariênina. Mas precisa ser tão infeliz assim? Ontem fui ver Feliz Natal, o filme do Selton Mello. Não era a minha intenção, pretendia ver Terra Vermelha, mas não havia ingressos para a sessão no horário. OK. É um ótimo filme, com grandes atuações. Mas é infelicidade demais. E todas aquelas tomadas e closes. Angustia. Dá vontade de ir embora no meio. E ladeira abaixo, sem chance de alguém jogar uma corda. Sinceramente, é tão deprê que não consigo nem ficar comovido. Caí no conto do horóscopo, que mandou fazer tudo sozinho no domingo. Fui ao cinema sozinho. Perigo. Não veja essa filme sozinho (deviam por esse aviso na porta). Leve alguém para abraçar no final e lembrar que tanta infelicidade assim junta só deve haver na ficção. Haja sorvete de morfina.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008