hoje eu olho as paredes
marcadas pelo arrastar dos móveis
e sinto sede.
sinto que sou uma girafa
preciso abaixar o pescoço
até o fundo do poço
para beber água fresca
contar com as válvulas
do meu pescoço
para não desmaiar
de tédio e calor
vejo o carpete encharcado
– porra, já falei, não deixa o carpete sob o ar condicionado
e lembro da girafa.
Não há graciosidade num bicho tão grande.
Língua tão grande.
Um palmo de língua para fora.
O tamanho da língua não garante
que falemos o mesmo idioma.
"You have to learn Portuguese, baby..."
Não implique com minhas cortinas pretas, please.
As cortinas pretas mantém o meu tédio do lado de fora.
As cortinas pretas isolam o mundo do meu mundo.
As cortinas pretas preservam o tênue fio poético que ainda há em mim.