sábado, 21 de novembro de 2009

musiké

tenho pavor de festinhas
aparo as arestas da farsa
visto minha roupa nova
mas hoje não saio de casa


Angélica Freitas
(in Rilke shake, Ed. 7Letras/Cosac Naify, 2009)

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

3.

Não é por me gavar
........................mas eu não tenho esplendor.
Sou referente pra ferrugem
........................mais do que referente pra fulgor.
Trabalho arduamente para fazer o que é desnecessário.
O que presta não tem confirmação,
........................o que não presta, tem.
Não serei mais um pobre diabo que sofre de nobrezas.
Só as coisas rasteiras me celestam.
Eu tenho cacoete pra vadio.
As violetas me imensam.

Manoel de Barros
(Desejar ser, in Livro sobre Nada, Ed. Record

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Há milênios...

.
não aparece um poema por aqui... hoje lembrei do meu soneto preferido.


Sonnet XVIII
(W. Shakespeare)

Shall I compare thee to a summer's day?
Thou art more lovely and more temperate:
Rough winds do shake the darling buds of May,
And summer's lease hath all too short a date:

Sometime too hot the eye of heaven shines,
And often is his gold complexion dimmed,
And every fair from fair sometime declines,
By chance, or nature's changing course untrimmed:

But thy eternal summer shall not fade,
Nor lose possession of that fair thou ow'st,
Nor shall death brag thou wander'st in his shade,
When in eternal lines to time thou grow'st,

So long as men can breathe, or eyes can see,
So long lives this, and this gives life to thee.

domingo, 1 de novembro de 2009

Washington DC, 31 de outubro, 2009

Sorvete de morfina é para os dias mais difíceis e amargos. Há um ano, doía tanto não ser amado que precisei de um vício novo que me deixasse anestesiado. Não havia endorfina, chocolate ou porre que desse jeito. Sorvete de morfina aliviou a dor, diminui meu medo. Ficou uma marca. Nunca mais olhei o mundo do mesmo jeito. Depois de tanto sorvete, recuperei um pouco da humanidade. Andava perdida em um buraco escuro em mim. Usei. Abusei. Aumentei a fábrica. Fiz mais sorvete. Desde então vivo de morfina em doses terapêuticas, prescritas como sorvete. Devagar acerto a dose. Para aliviar. Sem parar de respirar.